A pedido de seu advogado de defesa, um homem indígena encarcerado decide narrar suas lembranças. É por meio de seu relato que conhecemos o episódio devastador em que homens brancos — chamados por ele de “fantasmas” — exterminaram seu povo. Tomado pela dor e pelo desejo de justiça, ele admite o crime que cometeu: o assassinato daqueles que destruíram sua comunidade. Mas, sem provas concretas de sua história, cabe ao advogado Salomão, um homem negro, lutar por sua liberdade — dando início a uma amizade improvável, marcada pela resistência e pelo desejo de não permitir que o passado seja esquecido.
O grande diferencial do romance de Daniel Munduruku está na escolha de perspectiva: a narrativa de um massacre indígena e de um movimento de vingança e reparação contada pelos próprios povos originários. A aliança entre vozes marginalizadas dá novo sentido à história e transforma a obra em um marco literário, que desafia as estruturas tradicionais de poder e narrativa. Trata-se da criação simbólica de uma nova lei, uma nova forma de justiça, em que, quando a verdade finalmente emerge, o destino desses personagens se revela inevitável e transcendente.
- Autor: MUNDURUKU, DANIEL







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