Saboroso Cadáver

A sabedoria popular afirma que "Você é o que você come". No romance "Saboroso Cadáver", de Agustina Bazterrica, essa máxima é levada a extremos perturbadores. O livro narra a disseminação de um vírus entre os animais do planeta, tornando sua carne fatal para os humanos. Com a impossibilidade de consumir carne animal, a sociedade institucionaliza a criação e reprodução de seres humanos como gado, transformando o mundo em um lugar sombrio e distópico.

Nessa narrativa visceral e grotesca, repleta de descrições vívidas e nauseantes, somos introduzidos à rotina de Marcos Tejo, um funcionário do frigorífico Krieg que, ironicamente, parece ser o mais humano nesse cenário desolador. Acompanhamos sua jornada, testemunhando o processo meticuloso de criação de pessoas, abates, experimentos laboratoriais, caçadas humanas e banquetes canibais.

"Saboroso Cadáver", publicado originalmente em 2017, foi laureado com o Prêmio Clarín Novela na Argentina no mesmo ano. Três anos mais tarde, a tradução americana do livro recebeu o Ladies of Horror Fiction Award como melhor romance de 2020. Reconhecido pelo Washington Post como um dos melhores lançamentos de horror, ficção científica e fantasia de 2020, ao lado de "Temporada de Caça", de Stephen Graham Jones. Silvia Moreno-Garcia, autora de "Gótico Mexicano" (DarkSide® Books, 2021), foi uma das pessoas envolvidas na seleção.

Bazterrica expressou que "escrever é uma experiência feroz" e sua intenção é despertar os leitores desse estado de letargia, no qual a violência muitas vezes é naturalizada. "Saboroso Cadáver" imagina uma distopia aterradora, onde o canibalismo e a violência são aceitos como parte da ordem social, mas ainda há espaço para a compaixão, solidariedade e cuidado com o próximo, mesmo em meio à luta pela sobrevivência.

Com sua narrativa marcante e poderosa, Bazterrica nos lança em um pesadelo no qual o canibalismo é institucionalizado e a sociedade divide-se entre os que comem e os que são comidos. O romance nos instiga a refletir sobre o significado de humanidade quando os corpos dos mortos são destinados à alimentação, e questiona as relações moldadas pelo que consumimos.

"Saboroso Cadáver" é uma obra rara, uma iguaria literária implacável, alegórica e realista, que mescla o agridoce com o suculento, alimentando os corações literários que ainda pulsam diante da beleza do horror.